segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ontem...


"O tempo supera tudo". Mas, a vida se vai. Passamos o tempo todo dizendo "não olhe pra trás", "não viva no ontem".

Tão difícil às vezes, porque no ontem ficou os momentos vividos, e a presença, daqueles que se foram. Ficou nossa infância, inocência, fé na vida, fé no homem.

No ontem ficou a delicadeza das coisas, o entusiasmo do descobrimento, a beleza e o medo do "despertar".

No ontem ficou o amor incondicional, o olhar de vislumbre daqueles a quem ainda não havíamos ferido, ou que pensaram que foram feridos por nós.

No ontem ficou a cumplicidade, as tardes de descanso, o aconchego, a proteção.

No ontem ficou o frio na barriga. A sensação indiscritivel da primeira vez para tudo: o primeiro por-do-sol, o primeiro amanhecer, o primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira vez que seu corpo é tocado.

No ontem ficou a primeira vez que eu vi você, a alegria que me dava saber que eu te veria passar. No ontem ficou a ultima vez que eu vi você.

Ficou no ontem o acalanto, a certeza de que tudo que fazíamos era um estusiasmo para quem nos assistia, perplexo das nossas possibilidades, das expectativas que criavam em torno de nós.

No ontem ficou a necessidade da nossa presença, quando ainda erámos importantes.

Todos os segundos que vivemos se tornam passado e isso é trise, desolador.

O tempo passa e as pessoas ficam cada vez mais estranhas, mais frias, mais distantes, mais incapazes de deixarem de pensar somente em si.

O tempo passa e cada vez mais você se torna obsoleto, desnecessário. Qualquer coisa é motivo para você deixar de ser importante para alguém.

O tempo passa e os sentimentos começam a se tornar lendas: amor verdadeiro, amizade verdadeira, sinceridade, compreensão, perdão.

Eu temo pelas poucas pessoas, assim como eu, que ainda amam de verdade. Que ainda se chocam quando as pessoas simplesmente nos descartam. Que ainda não entendem o ser humano de hoje tão desprovido de humanidade.

Houve uma época que eu gostaria de ter para mim uma amizade como nos filmes, um amor como nos filmes, uma vida como nos filmes.

Hoje quero simplesmente viver em paz, não me permitir sofrer mais quando eu deixar de ser importante, quando eu perceber que eu nunca fui importante.

Hoje quero guardar com carinho o que ontem vivi e de vez em quando, é preciso, olhar para trás e saber que nunca amei demais e sim que fui amada de menos.

Mas, que no final não fui eu quem perdi com isso e sim quem nunca teve, ou terá, o privilégio de envelhecer comigo.

Chegou a hora de saber que eu sou extraordinária e me valorizar. Entendo os egoístas, ninguém nos ama mais do que nós mesmos.

Leni Silva.

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