quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tic-tac. Tic-tac.


Tic-tac. Tic-tac. Toca os ponteiros do relógio.
Tic-tac. Tic-tac. Ouço o compasso do meu coração.
Tic-tac. Tic-tac. Passam-se as horas, os dias, os meses, os anos.
Estou envelhecendo, nada mais é como antes.
A vida passa tão depressa que ao me dar conta tudo mudou.
A vida passa tão depressa que ao me olhar no espelho já não reconheço mais quem sou.
Me entreguei, me desnudei para o mundo e ele nem ligou.
Não tenho importância no jogo da vida muito cedo descobri esse fato.
Não me lastimo, isso não mudará minha sina, mas me entristeço. Uma tristeza que só aqueles, que como eu, nasceram para viver o amargo e o fel da vida compreendem.
Uma tristeza tão grande, tão dolorida que não se explica.
Explicar o que acontece em meu mundo não comove, não convence.
Luto contra a corrente, luto contra o que me foi destinado, estou perdendo a batalha, mas continuo em pé, o que tiver que ser será, mas não me levará vencida.
Não tive escolhas ou opções em minha vida, não tive portas abertas. Vivi pequenas alegrias e grandes e intensas agonias.
Ouvi infâmias, calúnias, vi-me rodeada de infortúnios e falsas profecias.
Ouvi o nome de "Deus" ser dito em vão por aqueles que se diziam seus filhos, os escolhidos.
Ouvi e vi maldições serem proferidas em nome do "pai" por aqueles que freqüentam sua casa.
Momentos de angústias fizeram parte de minha infância, adolescência e retornam em minha fase adulta.
Tudo em mim conspira contra eu mesma.
Tudo em mim vai de encontro a correnteza.
Paro, observo, aprendo, não desisto. Nada disso tem efeito em mim, nada disso fica a meu favor.
Me desespero, em alguns momentos, um desespero tão insuportável que gostaria de deixar de existir. Quando recobro minha consciência fica em mim apenas o vazio e a certeza de que nada vai mudar.
Não quero piedade, nem pena, considero esses dois sentimentos os piores que se pode ter por uma pessoa. Me odeie, me ame ou não sinta nada por mim, mas nunca sinta pena.
O que ocorre em meu mundo é resultado de ser quem eu sou, de amar intensamente a quem quer que seja. De não ser capaz de deixar para trás, de não ser capaz de parar e ver que nem todos merecem tanto amor ou correspondem tanto amor.
O que ocorre em meu mundo é cruel, desumano, sem sentido, sem propósito, desmedido.
O que ocorre em meu mundo é por eu não ser capaz de impor limites, de deixar as pessoas pensarem que eu não tenho importância, de deixar as pessoas pensarem que eu sou boba e manipulável, de não mostrar para elas que o fato de não querer magoá-las não significa que eu não possa fazer isso caso me sinta prejudicada por seus atos.
Tic-tac. Tic-tac. Meu tempo está acabando.
Tic-tac. Tic-tac. Eu continuo cometendo os mesmos erros: amando sem ser amada e não conseguindo me livrar desse amor, permitindo que as pessoas invadam minha vida e façam dela o que bem entenderem.
Eu continuo deixando as pessoas pensarem que eu sou boba e manipulável.
Eu continuo permitindo que elas me magoem.
Eu continuo amando homens que nunca irão me amar, por mais que isso me doa.
Eu continuo acreditando no ser humano.
Eu continuo sendo aquela menina sem noção da minha infância.
Tic-tac. Tic-tac. O tempo não pará.

LENI SILVA.

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